Para quem se dá ao trabalho de ler o que escrevo, isto não será propriamente uma novidade: gosto muito de sushi, mas sou adepto da sua versão mais tradicional. A mestria no corte das peças, a variedade e frescura do peixe, tudo isso para mim é mais interessante do que fusões (que, na maioria das vezes, se transformam em confusões). São opiniões, eu sei, mas a mim desperta-me pouco o interesse.
Só que a realidade arrasta-nos para o caminho contrário... Dos restaurantes de sushi que vão abrindo, metade são rodízios que apostam na quantidade e a outra metade seguem a via da fusão. São tendências...
Se calhar por causa desta minha preferência é que acabo sempre por ficar surpreendido quando encontro um restaurante com bom sushi de fusão. E se isso tinha acontecido há não muito tempo com o Nómada ou o Saïko, aconteceu ainda mais recentemente com o Hanaya Chiado.
Conhecemos de nome o Hanaya do Lumiar, e até foi a primeira opção, mas estava completamente cheio. Pensámos que o cenário ia ser o mesmo no "irmão mais novo" do Chiado, mas ao telefone disseram-nos que havia mesas. Vamos lá então!
O Hanaya Chiado fica no Chiado mas tem um problema de localização. Como fica mesmo no início da Rua Nova do Almada, mesmo na esquina, passam por ali muitos carros mas poucas pessoas. Talvez por isso o restaurante tivesse apenas duas outras mesas ocupadas numa quinta-feira à noite.
O que é uma pena, porque quem entra no restaurante é impossível que fique indiferente com o espaço. O ambiente sofisticado qb tem muito a ver com a arquitectura do próprio espaço, mas o trabalho subtil de decoração, iluminação e mobiliário fazem o resto. São dois pisos, o de baixo mais exposto (porque está ao nível da rua) e o de cima mais cozy, com um toque até romântico.
O serviço acompanha este toque de sofisticação, sempre presente sem ser intrusivo. Há cuidado no atendimento mas abertura suficiente para dar sugestões. Como devia ser sempre, mas infelizmente é cada vez menos a regra nos restaurantes em Lisboa.
Seguindo em frente.
A lista é extensa e tem muita coisa tradicional e ainda mais coisas de fusão. Tivemos azar e na noite em que fomos não havia carne kobe, nem abacate bom... nem sequer mais sobremesas que não dois gelados. É um bocado turn-off, especialmente quando estes ingredientes fazem parte de algumas das coisas que mais te chamam a atenção na lista. Mas felizmente as segundas escolhas provaram ser excelentes! Por isso ficou tudo bem! :)
Começamos pelas clássicas gyosas, bem recheadas, saborosas. Mais estranho foi o tártaro de polvo... uma apresentação muito engraçada, num pequeno balde, mas sabor que se quer tinha bastante pouco. Além de que o polvo não me parece uma boa proteína para comer crua, porque realça a sua textura esponjosa. Foi um tiro ao lado, mas felizmente o único do jantar.
Felizmente o rolo Green Bei (uma das sugestões do Chef) leva-nos ao pólo oposto, porque é delicioso! Tempura de camarão com cebola crocante e queijo creme, uma excelente combinação envolvida em folha de soja verde, tudo muito fresco.
E continuamos em alta com o combinado de sushi e sashimi tradicional. São 20 peças de vários peixes excelentes, bem cortadas e preparadas, a mostrar que mesmo com muita fusão, as bases estão lá e quem mexe na faca sabe o que faz.
Tínhamos ainda ficado curiosos com a página dos gunkan na ementa, por isso pedimos dois diferentes... e igualmente fenomenais! Primeiro, o gunkan Tuga, com atum braseado, maionese japonesa, ovo de codorniz estrelado, azeite de trufa, flor de sal e cebolinho. É preciso dizer mais alguma coisa? O melhor de todo o jantar, um gunkan de bradar aos céus! E o Hanaya (com atum braseado, queijo da serra, foie gras e doce de morango) é outro gunkan que não lhe fica nada atrás, tal é a conjugação perfeita dos sabores.
Pena não haver a carne de kobe para provar o Surf & Turf, mas fica para a próxima. Assim como os canelones, outra fusão engraçada na ementa.
Depois deste climax, foi realmente uma pena que as únicas sobremesas disponíveis fossem dois gelados (a carta estava a mudar, pelos vistos). Gelados vons, de sésamo e chá verde, mas não mais do que isso. E depois de um belo jantar, soube a pouco...
De qualquer forma, isso não influencia de grande maneira a nossa opinião ao sairmos do Hanaya Chiado. Está aqui um restaurante que merece muito mais mesas cheias por noite, porque consegue juntar a vertente mais tradicional do sushi às experiências mais de fusão, e fazer ambos com excelentes resultados. E consegue fazer isso num espaço muito bonito e com um serviço exemplar. E a conjugação desses três factores é cada vez mais difícil de encontrar em restaurantes novos em Lisboa.
Nós gostamos e muito, por isso lá teremos de voltar para provar o que não conseguimos na primeira visita! ;)
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