Como desrever o Solar dos Nunes sem ser como parte integrante do meu top 10 de restaurantes de cozinha tradicionalíssima portuguesa?
Como sendo um rochedo na maré viva do meu top 3 de restaurantes com pratos de caça?
Em que se afirma com um lugar de pódio nos restaurantes que me tratam como família mesmo não o sendo?
Tudo neste restaurante vale a pena preservar. Até o proprietário, José António Nunes (ainda por cima tem o nome do meu avô). Eu era pessoa para, com todo o respeito, pegar no Sr. Nunes e embalsamá-lo para todo o sempre com aquele sorriso caloroso e abraços prazerosos.
O restaurante cristaliza a tipicidade e bom gosto do tradicional português, do telheiro interior aos azulejos das cadeiras aos tapetes, das mesas quase medievais às cerâmicas expostas, dos quadros aos bons guardanapos de pano. Enfim, tudo me transporta para um passado que todos os que nasceram da década de 80 para trás recordam com grande exaltação da saudade.
E no mais importante, não deixam nada por mãos alheias. Nem estômago, começando logo pelas entradas. Um mar de pecados que fazia Pandora corar de vergonha. Presunto superior, queijo fresco artesanal, saladinhas de tudo o que faz bem a alma, queijos "amanteigordos", pimentos assados, cogumelos salteados, enfim, uma refeição para quem não tem cuidado e depois fica a meio da corrida.
Não se pode dizer que a especialidade balance mais para os peixes ou para as carnes porque em tudo há uma variedade imensa de escolhas.
Os filetes de garoupa são gulosos, bem fritos, com aquele arroz de tomate viciante. Comemos também um naco do lombo à El Matador que me matou grande parte da gula que tinha (guardei um cochinho para as sobremesas, confesso...).
Mas ainda não satisfeito com a prova, aventurei-me num safari...
E nesse campo, podemos dizer que descobrimos a especialidade da casa: Caça. Lebre, javali, coelho bravo, veado e muita perdiz (alguma com necessidade de reserva 24 horas antes).
A lebre no tacho era um amanteigar das papilas gustativas, com aquele feijão branco aveludado e cheio de boas ervas de cheiro que dão tanto à caça, como o tomilho, o cravinho, o alecrim e o louro.
Vinhos infinitos numa garrafeira invejável até para Dionísio, Deus Grego destas lides. Atenção, é bom mas paga-se bem e por isso só deu para provar os tintos porque com duas garrafas já não pagava o Netflix deste mês...
Nas sobremesas - que eles chamam de Lambardices - os eleitos foram o Quindim de coco e a Sericaia com a inolvidável ameixa de Elvas. Ambos apuradissimos, gulosos e com vontade de discorrer sobre as restantes Lambardices até que a glicémia me desse um pico ao nível do Kilimanjaro.
Eusébio, Daniela Mercury, Ivete Sangalo, Mariza, Axl Rose, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Joel Santoni, Fernando Henrique Cardoso, Pedro Passos Coelho e outros vultos da política, música e cultura (não mencionei jogadores da bola e cantores pimba porque são muitos...) estão na lista de Ilustres que o Sr. Nunes publica com orgulho no seu website.
Não os menciono por perceberem alguma coisa de comida (porque não sei se comem bem ou mal) mas se os produtores (ou assistentes de produção), adidos culturais, amigos, parceiros, mordomos, seja quem for que levou estas alminhas ao Solar dos Nunes, sabe que os impressiona pelo serviço, pela comida e mostra o que de melhor temos em Portugal.
Um brinde ao melhor deste Solar, isto é: tudo!
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