Se estivéssemos na época dos Descobrimentos, o Atlântico Bar & Restaurante seria, certamente, o cais dos marinheiros que perseguiam os abismos das águas, como Santiago na obra "O Velho e O Mar", de Ernest Hemingway. Este novo espaço da Marginal, com vista para o Tejo, é uma das pérolas do oceano que banha a costa portuguesa; é impossível passar ao largo do hotel Intercontinental e não ser envolvido pelo cheiro a maresia, a peixe fresco e a especiarias. Estes produtos bem que podiam ser transportados em caravelas com mastros ao vento, mas a verdade é que chegam à cozinha do restaurante pela mão do chef Jorge Fernandes.
Na rota dos foodies incuráveis, há paragens obrigatórias e digo-vos, de paladar inebriado e estômago cheio, esta é uma delas! Foi num harmonioso e soalheiro dia de verão que eu e a minha melhor amiga rumámos até à Avenida Marginal, no Estoril, para uma degustação de algumas das especialidades do cardápio. Já tinha estado presente na inauguração noturna do espaço, em fevereiro passado, mas queria saber como era deliciar-me com as iguarias da casa envolvida pela ambiência da luz do final da manhã. O sol foi gentil e, nesse dia, procurou ser menos enérgico, mas ainda assim manteve o seu fulgor, para que a brisa marítima pudesse rodopiar.
Fomos recebidas com sorrisos cativantes por parte dos empregados e com uma simpatia espontânea; talvez por isso a sensação de aconchego tenha sido imediata. A gerência do restaurante reservou-nos uma das mesas do terraço, um detalhe que tornou a nossa refeição mais descontraída. À mesa esperava-nos um cesto de pão, manteigas caseiras aromatizadas, patê de atum dos Açores e queijo marinado. Tudo era uma delícia! Aliás, aquele pote não me sai da cabeça. Afastem a JJ da mesa dos queijos, minha gente. Please!
Bem, o momento de escolher as entradas e o prato principal do menu do Atlântico foi, confesso-vos, o mais moroso. As descrições dos ingredientes utilizados faziam crescer água na boca e a nossa vontade de experimentar diferentes combinações de sabores começava a manifestar-se de forma efusiva. No entretanto, uma das empregas sugeriu-me que provasse uma das invenções da casa, o mojito de maracujá. Eu, que nem aprecio frutos exóticos, mas que não resisto, socialmente, a um cocktail preparado com rum, fui conquistada. Para começar... com um twist, como anuncia a ementa, optámos por experimentar as gyosas de camarão com molho teriaky (sim, aquele tempero que confere um toque especial ao sushi!), chévre panado com coulis de frutos vermelhos, e choco em tempura de cerveja. Apesar de termos ficado saciadas, o nosso estômago guardou espaço para a prova de dois dos pratos principais, sendo que também eles obrigaram a largos minutos de conferência entre mim e a Sara. Quinoa com espargos verdes e pasta de trufa, risoto de sapateira com champagne e citrinos? Parecem-vos hipóteses atrativas e suculentas? A nós soube-nos a aventuras em alto-mar, a cânticos de sereias e ninfas, a viagens nas faluas do Tejo. A atenção aos pormenores, essa, também não passa despercebida: os pratos parecem conchas e os copos têm a cor das águas mais profundas dos oceanos. Ou então é apenas a minha imaginação a ser irrequieta, como é seu apanágio.
Pensavam que a minha barriga tinha encerrado para descanso provisório daqueles bonecos do "Era Uma Vez... O Corpo Humano?" Desenganem-se! Na verdade, eles passeiam-se pelo meu esqueleto e perguntam com bastante frequência: mas onde é que esta catraia guarda tanta comida, caramba? Ela lá consegue arranjar sempre mais um buraquinho. Raios! Na inauguração do Atlântico tinha ficado de olho na mousse de requeijão, bolo de espinafres e gelado de noz. Fotografei a obra de arte criada pelo chef, mas não tinha tido oportunidade de lhe espetar uma garfada. Pois que é irresistível, mesmo com esta fusão improvável de sabores. Já a Sara, que é louca por coco, quis saborear a mousse hit de verão, cuja composição é apresentada na própria casca da fruta. Naquele instante, fomos transportadas para o outro lado do oceano, para o paraíso descoberto por Pedro Álvares Cabral, em 1500, o Brasil.
O Atlântico Bar & Restaurante lembra uma casa de praia moderna e requintada, com as madeiras, uma paleta de tons azuis e brancos, e cardumes de peixes, a predominarem na decoração. Deixem-se arrebatar pela ampla vidraça que separa a sala interior da esplanada - ficarão maravilhados! Os raios de luz natural ramificam-se e inundam o espaço com o seu eterno esplendor.
Apesar de ser um estabelecimento que dá primazia ao marisco fresco com alguns apontamentos mais artísticos, há uma miríade de opções para os clientes vegetarianos e para os foodies que ainda não conseguem viver sem um entrecôte de novilho com batata e amêndoa, só para dar um exemplo. E fiquem ainda a saber que há uma proposta que traz água no bico, ou melhor dizendo, álcool: um menu de tapas composto por uma harmonização com champagne Laurent Perrier, da qual se evidencia o prato de salmão gravelax com lima. Sounds like heaven, right? E não é que é mesmo?
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