Jantar como reis. Uma vista fenomenal para o mar através de janelas amplas - ou não estivesse o Infante localizado mesmo sobre a praia - foi o cartão de visita que nos trouxe ao restaurante, mas são o serviço atencioso e as maravilhas gastronômicas a garantir que iremos regressar.
Couvert: azeitonas da região e nacos de atum em escabeche. O peixe é em quantidade suficiente para servir como refeição ligeira, desfaz-se em lombos grandes e deliciosos, e desaparece num instante, com muita pena nossa. 
Entradas: lulinhas à algarvia. Esqueçam o que pensavam saber acerca de lulas, estas são extra frescas e foram apenas levemente passadas no tacho ou no forno, ainda retendo muito do mar. A textura é suave como manteiga, excepto pelas pontas e pelos tentáculos mais crocantes; o sabor é dominado pelas carradas de limão e de coentros do molho. Absolutamente irresistíveis,  e quando terminamos a travessa já estávamos no ponto para uma sobremesa, um digestivo e ir para casa. Mas ainda vamos a meio.
Entretanto a algum ponto chega também um valente jarro de sangria branca, que pelos vistos não está ao corrente do segredo de que toda a boa sangria tem de ser feita com mau vinho. Tretas. Não sei o que meteram cá dentro, mas é refrescante e muito aromático - retém a essência do vinho - e em simultâneo quase licoroso sem parecer ter muito açucar. Das melhores, e um litro e meio mal sobrevive ao jantar.
Prato principal: panela de arroz de marisco. Solto e afogado num molho levíssimo de tomate e caldo de camarão, com notas subtis de picante, é das interpretações mais refinadas deste clássico do nosso litoral. Para lá chegar no entanto temos de escavar pela quantidade obscena de enormes camarões, lagostins e um lavagante no topo. E fica claro que o prato é preparado com ingredientes bem frescos: descasca-se o marisco à faca e garfo e a carne separa-se do resto facilmente, mas depois mantém-se fibrosa e suculenta, obrigando-nos a mastigar para soltar um recital de sucos divinais.
É raríssimo deixarmos comida, mas não conseguimos terminar a panela apesar dos nossos melhores esforços. Aliás, nem conseguimos sequer chegar às sobremesas; sorvemos apenas o licor (de anis?) que é oferta da casa para limpar o palato, e precisamos de caminhar bastante para ajudar a digestão. Acabamos por pagar apenas 35 euros por pessoa, ridículos face à qualidade do repasto. Não resisto a deixar uma gorjeta decente para tentar corrigir a injustiça, e a marcar o Infante como um Must em todas as próximas visitas a Monte Gordo.