A principal lacuna que nós próprios sentimos neste desafio que é o Onde Vamos Jantar? é o facto de não termos uma “cobertura geográfica” tão abrangente como queríamos.Saímos algumas vezes fora da Grande Lisboa, é verdade, mas não tanto como gostaríamos. Porque as pessoas que temos conhecido ao longo do tempo falam-nos de restaurantes fantásticos espalhados por todo o país, que vamos apontando numa lista interminável.Mas o tempo não chega para tudo…
Ora, o que fazemos quando vamos para fora é pesquisar e pedir sugestões a amigos e à rede que criámos com o projecto. O que nos faz ficar com uma quantidade grande de opções e ter de escolher. E foi isso que aconteceu quando recentemente estivemos na zona de Tavira, no Algarve.
Bom, o Algarve tem o problema de ser sazonal. Durante 3 estações do ano está a “bombar”, mas durante o Inverno a grande maioria das coisas fecha (com excepção da passagem de ano). O que significa que, se lá vais passar um fim-de-semana aleatório em Dezembro, tens de estar preparado para encontrar a grande maioria das coisas fechadas. Especialmente na restauração. E se a isso juntarmos o facto de sairmos de Lisboa numa sexta-feira às 20h, então sabemos que vai ser uma dor de cabeça encontrar um restaurante para jantar quando chegarmos a Tavira.
E foi aí que surgiu o Nó de Gosto.
Recomendado por um amigo que também gosta de comer (e escrever) – Devaneios de um Foodie – o Nó de Gosto fica no centro de Tavira e não só está aberto no Inverno como tem a cozinha aberta até depois das 23h. O que significa que nos recebem para jantar, mesmo tarde.
O restaurante não é o típico restaurante algarvio, está mais próximo daquilo que conhecemos como uma tasca moderna. Isso reflecte-se no espaço, com pouca decoração, e também na ementa. Aqui dominam os petiscos, com uma ementa com várias coisas diferentes: ovos, saladas, tábuas, pratos de fogão e conservas. Muita coisa para escolher, e quase tudo muito interessante numa primeira leitura.
Resolvemos escolher várias coisas, porque a hora tardia pede partilha e porque assim podemos experimentar mais coisas. Começamos por uma conserva, a cavala com limão e tomilho, servida sobre pequenas fatias de pão, tipo uma bruschetta. Muito bom o peixe, saboroso, regado com o seu próprio molho de conserva.
Depois, dois ovos, só porque sim. Os Beneditino, que são basicamente Benedict, com um ovo perfeitamente escalfado sobre uma cama de pão torrado, presunto e espinafres. Tudo excelente, e o molho holandês ainda melhora mais o conjunto. Mas mais surpreendente é o ovo escalfado sobre fatia de pão de cereais coberta de abacate. Fresco, a respirar saúde, o pão com um excelente sabor e a pasta de abacate a resultar na perfeição com a gema do ovo que lhe escorre por cima. São mais opções de pequeno-almoço, é verdade, mas o que é que isso interessa se são deliciosos?!
Do forno vieram ainda as favas com choco, um prato de conforto mas o mais normal a nível de sabor. É rico, mas não surpreende, talvez precisasse de ser mais apurado.
Voltamos a um registo alto com as lascas de bacalhau com puré de grão e espinafres, outro conjunto clássico. Servido numa dose de petisco, o bacalhau está perfeito de sabor, puxado ao alho e ao azeite, assim como os espinafres. O puré de grão ajuda a fechar o conjunto, num prato que é tão tipicamente português.
Também típico e de conforto é o prato final da noite, as bochechas de porco SV, acompanhadas com puré de castanhas, outro de maçã e ainda um chutney de tomate. Bochechas muito boas, puré de maçã e chutney excelentes, puré de castanha menos interessante (nem tanto pelo sabor, mais pela textura demasiado sólida).
Nas sobremesas, a grande surpresa! Não estamos a falar da mousse de abacate, que é muito boa, mas sim do fantástico bolo de batata doce! Minha gente, FA-BU-LO-SO!!! Pode parecer uma coisa simples, mas esta fatia de bolo entra directamente para o primeiro lugar de um top de sobremesas que comemos durante todo o ano! A sério, uma maravilha!
E depois, para acompanhar o café, uma brincadeira interessante que são os bombons de chocolate com sabores fora do normal (queijo da serra, poejo, castanha, cardamomo, etc.). Uma forma divertida de acabar um jantar tardio, mas muito bom.
Quando pensámos em ir para o Algarve, a ideia era experimentar outro tipo de restaurantes mais típicos. Mas as circunstâncias levaram-nos ao Nó de Gosto e ainda bem, porque está aqui uma pequena pérola. O restaurante é novo e, como é natural, precisa de pequenas afinações. Mas tem uma ideia concreta daquilo que quer ser e isso ajuda bastante. Além disso, é muito interessante que se afaste do que seria normal na zona – um restaurante de peixe e cataplanas – e arrisque em fazer algo mais contemporâneo.
Nós vamos voltar ao Nó de Gosto de certeza, quando andarmos pela zona. Para experimentar outros pratos que nos ficaram na retina e, claro, para comer novamente o fabuloso bolo de batata doce!
An error has occurred! Please try again in a few minutes