Numa altura em que estamos no auge da moda dos restaurantes asiáticos - que servem comida de vários países, sem se comprometer com nenhuma em específico - é engraçado voltar às origens e ir a um restaurante dedicado apenas a uma gastronomia. Ok, podem ser restaurantes que não estão tão na moda, mas conseguem transmitir-nos um conhecimento mais aprofundado da gastronomia desse país. Pelo menos, na teoria.
Ora, da gastronomia coreana conhecíamos muito pouco, para não dizer quase nada. Comemos um japchae no Boa-Bao e gostamos muito, por isso a curiosidade ficou no ar. E foi através de amigos que soubemos da existência de um restaurante coreano em Lisboa, por isso resolvemos dar lá um salto para conhecer melhor.
O Xin fica em Odivelas, não muito longe das Colinas do Cruzeiro (uma das novas mecas da restauração da grande Lisboa), e à primeira vista não impressiona. Entramos e temos um ambiente típico de pastelaria, nada temático (se excluirmos uma bandeira numa parede), com a iluminação demasiado forte e branca, enfim, sem qualquer personalização. É que nem sequer parece um chinês.
O restaurante está praticamente vazio, mas é um dia de semana. Numa zona tão residencial como esta, esperávamos um pouco mais. Mas pelo menos um restaurante vazio significa um serviço mais dedicado, o que acontece, com simpatia e sempre pronto a recomendar pratos. Como não conhecemos bem a gastronomia, ouvimos com atenção, até porque a lista é extensa e complicada. Somos 8 pessoas, por isso podemos escolher várias coisas para partilhar e experimentar.
Começamos por pedir algumas entradas: as bolas de gambas fritas, muito boas e saborosas; os spring rolls, quase sem recheio nenhum, basicamente só massa frita; os raviolis de carne e kimchi e também os de vegetais, ambos muito bons; e ainda uma panqueca coreana com kimchi, com aspecto de uma espécie de pizza mas que ganha imenso com os molhos que a acompanham, picantes qb.
Para experimentar também, um vinho de arroz coreano (avisam-nos que tem 17°, para termos cuidado), que esperávamos ser tipo saké mas que se revela apenas água com um bocado de álcool. Mudamos logo para o vinho normal.
A promessa de picante foi um aviso quando pedimos os pratos, mas deixamos os molhos ficar na mesa. E à medida que os pratos vão chegando, percebemos que alguns já estão no ponto perfeito de sabor mas há outros que precisam de um toque.
Visualmente os pratos estão muito próximos daquilo a que estamos habituados nos restaurantes chineses, com muita cor e molho.
Não conhecia, mas pelos vistos um dos ex-libris da cozinha coreana é o bibimbap, que nós pedimos na versão com carne e vegetais. Vegetais diversos e carne, todos cozinhados de forma diferente e servidos seccionados numa tigela grande, com um ovo estrelado em cima. A ideia é misturar tudo e foi o que nós fizemos. O resultado final é uma espécie de fried rice indiano, mas com sabores mais asiáticos: os legumes e a carne conjugam-se muito bem e o ovo acaba por unir tudo num prato que é tão bom como parece quando o vemos. Cores e sabores vivos. É preciso mais?
Mas este é só o primeiro prato de vários, porque vão chegando à mesa o resto dos nossos pedidos. O peixe com molho agridoce é um robalo cozinhado inteiro num molho... agridoce. Estranho porque estamos habituados a comer peixe salgado, e ainda por cima este não é servido arranjado, por isso é o prato perdedor da noite. Não que seja mau, mas é o menos interessante.
Um pouco melhor (mas não por muito) é o polvo bebé salteado. O nome prometia muito, mas basicamente é uma espécie de salada de polvo com molho agridoce. E picante nem vê-lo.
Provavelmente porque está todo na vaca na chapa quente, este sim um prato picante. Mas não só isso: é picante e muito saboroso, com um equilíbrio excelente entre o doce e o salgado. Além de que envolve todo um exercício de trabalhos manuais: pegamos numa filha de alface, enchemos com a carne e com kimchi e molhos e depois comemos como se fosse um taco. Um bom exercício mas acima de tudo um excelente prato.
Assim como o frango ao vapor embrulhado em folha de lótus, muito equilibrado também. Outro prato @muito bom e diferente do que esperávamos.
Mais normal (novamente) é o pato com molho de especiarias. Os especialistas dirão que tem um gosto diferente, mas pareceu-nos muito próximo do pato à Pequim. Muito saboroso mas claramente menos surpreendente.
Todas as doses são bastante bem servidas, por isso em grupo conseguimos mesmo provar muita coisa. É a melhor opção, mas mesmo que não seja esse o contexto, o resultado é igualmente bom.
A degustação já vai longa, mas ainda temos estômago para as sobremesas. Aqui novamente sem grandes surpresas, tudo muito parecido com o que vemos em restaurantes chineses. Gelado frito, que nos dizem ser completamente diferente mas parece exactamente igual à versão chinesa; outro gelado acompanhado de um rolinhos de massa crocante que sabem a Cheetos; uma espécie de bolo esponjoso de chá verde, muito bom; e um gelado com feijão encarnado, uma das sobremesas mais fora do comum. Nenhuma extraordinária, mas tudo bom.
No final do jantar, podemos dizer que já fomos a um restaurante coreano. Não sei se é isto que realmente se come na Coreia, mas sejamos honestos: não conseguimos dizer isso sobre nenhuma gastronomia a não ser que tenhamos estado nesse país. Nós vimos bases muito próximas da cozinha chinesa e mesmo tailandesa, muitoa pontos em comum. Mas também vimos coisas diferentes e com sabores muito bem conseguidos. E foi por isso mesmo que, independentemente do restaurante em si não ter graça nenhuma, nós acabamos por gostar bastante do Xin. E queremos voltar para provar ainda mais coisas que nos ficaram na retina. Ou mesmo dar um saltinho à Coreia (a boa) para os provar na origem ;)
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