“çahroi”
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Difícil de dizer? Foi esta uma das especialidades com que a Apolo78 brindou os seus visitantes, no mais recente Festival do Caracol Saloio de Loures.
O vocábulo árabe “çahroi” significa homem, habitante do deserto, numa referência directa aos çaloios, ou mouros originários de Salé, que por ali estabeleceram há uns quantos anos.
Quem tem capacidade para gerar este tipo de história seguramente também o tem para cozinhar, e ainda que o mono produto seja o gastrópode veranil, tiveram a capacidade (como as restantes casas do festival diga-se), de se reinventar, adaptar e proliferar assim.
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Para além dos caracóis em si, que são obrigatórios e servem de ponto de honra no que concerne ao atestar da qualidade de época para época (e sim que estiveram bons este ano), há outro prato que se tornou quase religiosamente de comer, e que são as caracoletas à Bulhão Pato. É possível fazer quase tudo “à Braz”, e à “Bulhão Pato” parece-me que também há uma série de coisas para além das ameijoas que o permitem. A caracoleta, tem a vantagem, de tolerar mais o lume que a ameijoa, e como eles fazem os dois elementos separados, juntando-os no final tende a sair no ponto. Isto necessita é de pão e por aqui (caramba e estamos entre Mafra e a Malveira na zona saloia), ele não é o melhor. Ensopa é verdade, mas podia facilmente melhorar.
Para além destes, o então çahroi, pastel semi folhado com recheio de caracol, que espero esteja aprimorado para o ano (um dos riscos deste evento é que há coisas que aparecem um ano, e depois nunca mais voltam, porque não tiveram saída suficiente, ou porque as opiniões não foram unânimes), que estava relativamente seco e poderia estar o folhado mais leve, como um pastel de chaves, com um recheio untuoso e suculento. O sabor é bom, as texturas definitivamente a melhorar.
Como piece de resistance, o pastel de nata de bacalhau. O horror, dirão alguns, excepto os 20 que experimentaram. Não é fácil num país com tanta tradição querer arriscar tanto. É agradável (açucar + sal + farinha no mesmo síto, é demasiado pó branco para não ser bom), que se calhar podia migrar para dentro co çachroi. Ao perguntar antecipadamente sobre o pastel, se era mesmo de nata (doce) ou com natas (como o bacalhau), acabei por levar uma descasca das grandes, sobre opções que se fazem, o país a andar para a frente e o desejo de arriscar. Gosto de descascas destas.
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2015 foi ano de safra dura, e talvez por isso o festival tenha parecido mais cheio. Menos oportunidade para jantar fora, equivalem a mais concentração naquelas que são notoriamente distintas.
A gigantesca tenda alberga milhares de pessoas em mesas comunais que agora aguardam sempre a vez do lado contrário ao do balcão de serviço que assim não estorvam.
A ideia de ter colocado o palco no fundo da “loja” este ano, permitiu a algumas casa um nível decente sonoro para os seus convidados (sim, as que estão mais afastadas do palco), e não permitiu a ninguém uma ventilação natural que se tinha conseguido o ano passado. Pensando bem nisso, se calhar os aderentes agradecem, que assim vendem mais bebida.
Longe vão também os tempos em que quem não gostava de rastejantes, se contentava com caldo verde e farturas. O street food acabou por fazer a sua aparição e lá surgem mais do que muitas alternativas, para quem não consegue nem olhar para eles.
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Caracol, caracol põe os...(depois de cozido é mais difícil, suponho)
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#zomato35 #caracolaria #snailgourmet #festivalcaracolsaloio2015
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