“Com algum Salero”
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Mas de certeza que isto é Loures? Acabei por me lembrar de espaços tão dispares, com o Tomba Lobos ou o Cozinha da Terra. Todos “desterrados”, todos com ampla imaginação e capacidade para se reinventarem.
Confesso que não esperava. Já me tinham referido este espaço como sendo dos melhores em Loures, mas não se sabe bem o que esperar, não tinha vindo ver, nem constar o que poderia acontecer por ali.
Surpresas são boas, e esta foi uma delas. Rico, constante, com inveja das outras mesas e da incapacidade de conseguir provar tudo aquilo que por ali passava.
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Por vezes há quem invente inconsequentemente. Com um grande estímulo de imaginação, mas sem conseguir produzir um produto que seja simultaneamente inovador, apelativo e sobretudo apetitoso. Não é o caso.
Da lista do dia (almoço) que não era assim tão grande, a dificuldade começou logo na decisão. Os apelos vinham de demasiados lados e não podiam todos ser tomados por garantidos. Assim e após alguma luta, optou-se pelo alma negra de polvo e o caril de camarão moçambicano.
Começa a refeição com um papari crocante, que serve para entreter, e é também a definição de exotismo que não se está à espera.
A alma negra, com os tentáculos recortados para serem mais finos, a tinta negra do primo cefalópode a ser adicionada ao polme com consistência fofa das claras bem batidas, tudo apresentado, como tubos de lava acabadinhos de sair do vulcão. Engraçado (porventura até exagerado), mas sobretudo com óptima textura - ninguém faz polvo como nós - e muito bom sabor. Um picante muito muito ténue, a dar um ar da sua graça.
Já o caril, parecia de pasta e não de pó, numa muito harmoniosa mistura, sem curcuma em excesso como por cá é regra que a Margão impôs, com pouco picante (embora dito à Moçambicana), de camarão esse mais standard e menos avantajado que o expectável, mas em quantidade mais que suficiente.
Acompanharam ambos com arroz de distintas qualidades funções e quantidades de líquido inerentes.
Sem sobremesa, a graça da casa veio sob a forma de pequenas broas, cujo único lamento era o prato de serviço ser da marca do café. Ainda assim agradecido, claro está.
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Do exterior é uma casa, o fim de um quarteirão, sob forma de vivenda antiga, de telhados inclinados e sinalética vertical ainda em neon. Esta é a parte de trás, de quem vem dos lados da Câmara, mas a entrada, faz-se através da porta do antigo quintal, virada para o largo principal, pela agora esplanada, ligeiramente elevada do arruamento e que no verão deve saber bastante bem. Mobiliário de marca de refrigerante, que não condiz com o alvo.
Lá dentro o azul é imperador, com os negociantes sentados em diversas mesas, notoriamente o menu executivo a sair em força. Um ou outro ajuntamento maior, em mesas redondas mais centrais.
Também acho que não condiz com a comida apresentada, mas isso só acaba por melhorar o impacto do produto apresentado.
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Afinal, por aqui, não são apenas os caracóis que merecem algum tipo de fama.
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#zomato40 #nocampo #semcaracois #boapinta
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