Aos poucos, a zona de restauração da Marina do Parque das Nações volta aos seus anos de glória durante a Expo 1998, com bares e restaurantes a abrir sucessivamente, com novas propostas e ideias, e a angariarem uma clientela fiel, numa zona calminha de Lisboa, onde há imenso espaço para estacionar — coisa que é cada vez mais difícil de encontrar nos bairros «típicos» ou nas zonas de lazer nocturno do resto da cidade.
O Prego LX é uma aposta relativamente nova (vai fazer em breve três meses de existência), mas durante este «louco Verão» já mudou um pouco o seu objectivo inicial e tem expandido o conceito (e a cozinha): de um «wine bar» de tapas tornou-se um restaurante especializado no prato mais típico de Lisboa: o prego (seja no prato, seja no pão). Mas não deixou a sua vocação inicial de bar de tapas!
Com tanta oferta nesta área, o que é que o Prego LX oferece? Para começar, uma apresentação e confecção dos pratos digna de chef; e um serviço irrepreensível no seu profissionalismo combinado com a simpatia e descontracção tanto do pessoal, como da gerência. É evidente que os pregos, sejam na variante vaca ou peru, seja no prato ou no pão, também são uma delícia: fininhos como se pretende, fritos na chapa sem excesso de gordura, e quilos e quilos de alho no molho — um prego que decididamente não é para vampiros! Acompanha com batata frita, mas o ovo estrelado e a salada são pagos à parte. Uma decisão que na verdade é de aplaudir: é mesmo possível comer-se mesmo muito bem por uma mão cheia de euros, mas quem deseje mais requintes, mais entradas, mais diversidade, mais bebidas, mais sobremesa... pode ir pagando tudo à parte. O que permite organizar jantares com grupos que tenham muito pouco dinheiro e que fiquem satisfeitos meramente com o prego e as batatas fritas; ou então passar um serão petiscando, começando pelo prego à hora do jantar, mas indo provando o resto das iguarias que nos esperam ao longo da noite, acompanhadas com uma grande selecção de vinhos, cervejas, gin, e bebidas espirituosas — selecção é o que não falta!
Actualmente o Prego LX oferece três áreas distintas para desfrutar: um espaço interior, todo em madeira, com um ar de bar sofisticado, mas alegre e luminoso — excelente no inverno, claro está, pois esta zona junto ao Tejo é bem fresquinha nos meses mais frios do ano. A segunda área é já de esplanada, encostada junto à porta do espaço interior, e bastante resguardada do vento e da potencial chuva ocasional: serve para os fumadores, claro está, mas também para quem prefira estar ao ar livre sem, no entanto, estar sujeito às intempéries. Diz-me a gerente que este espaço (actualmente com um toldo) irá eventualmente ser todo fechado, à semelhança do que já acontece com outros bares e restaurantes da zona. Finalmente, ainda mais perto do rio, existe uma área de esplanada com cadeiras mais baixas e guarda-sóis, mais apropriada para desfrutar de uma bebida e de umas tapas do que propriamente para jantar (embora, claro, seja perfeitamente possível fazê-lo se assim se entender).
Uma coisa que se nota imediatamente é a boa disposição e convivência entre os colaboradores do espaço, e entre estes e alguns dos clientes mais «antigos» (uma palavra muito subjectiva para descrever frequentadores dum espaço tão recente!). O certo é que bastou ir pela segunda vez ao espaço para me tratarem pelo nome; e nos intervalos em que não haja serviço tão intenso, a gerente não tem o menor problema de estar à conversa com os clientes que assim o entendam. Gera-se assim uma maior intimidade entre os frequentadores do espaço e os colaboradores do mesmo: de clientes passam a ser da casa. Uma atitude, aliás, tipicamente lisboeta, e que se encontra igualmente noutros espaços aqui no Passeio Neptuno. É bom ver que certas tradições se mantêm e se renovam!
Será o «melhor prego de Lisboa» como gostam de afirmar? Não sei! Pessoalmente, acho que exageram um pouco no sal (daí não ter levado nota máxima!), pois o sabor já é reforçado com o alho — as próprias batatas fritas também vêm com alho em pó, o que lhes dá um sabor mais picante e especial — e o sal, esse, não faz falta nenhuma (ou poderia vir à parte). O preço é de facto muito agradável, mas tenho de confessar que já comi melhores pregos na zona de Lisboa por preços muito semelhantes, também em restaurantes recentes com um chef a orientar a cozinha. Seja como fôr, a qualidade é de facto excelente para o preço que praticam — há evidentemente muitos espaços que não são tão bonitos, servem o mesmo tipo de comida, e cobram, sem qualquer vergonha, três ou quatro vezes o preço...
Adorei igualmente a sobremesa que me propuseram, o fondant de chocolate com gelado de framboesa, excelentemente apresentado e delicioso. E não custou os olhos da cara :-) embora acredite que os gourmets mais exigentes talvez reclamassem do chocolate do fondant não vir derretido no momento em que a colher o parte em dois... mas são detalhes e pormenores que não interessam! Aqui no Prego LX assiste-se a um revivalismo — com um evidente toque de modernidade, bom gosto e profissionalismo, que se exige neste século XXI — das verdadeiras tradições culinárias lisboetas.
Para grupos a gerência agradece que telefonem previamente a combinar (em vez de recorrerem ao Facebook, Zomato, ou outros sites...). O espaço não é gigantesco; assim por alto, devem caber talvez umas 30 pessoas na zona interior, 16 na zona intermédia, e outras tantas na esplanada exterior. Talvez não seja o melhor espaço para um jantar de Natal de uma empresa com 500 funcionários!... Mas para um grupo de amigos que se queira encontrar, seja para jantar, seja para umas tapas, este é um espaço ideal.
E deve-se sempre elogiar a atitude não-discriminatória da gerência, que abre os braços à comunidade LGBT — ou a qualquer outra! — sem colocar absolutamente nenhuma objecção.
Nota: apesar do descritivo aqui no Zomato dizer que apenas aceitam dinheiro, a verdade é que já têm o Multibanco a funcionar.
(Na foto com a gerente do lado direito)
An error has occurred! Please try again in a few minutes