Quem me conhece sabe que adoro encontrar restaurantes novos. Especialmente sítios que nem sabia que existiam… e onde sou bem recebido. Sítios descomprometidos, onde há simpatia daquela genuína, onde nos sentimos em casa. Sítios que ainda não estão cheios de gente, onde o atendimento pode ser personalizado. Sítios onde a comida ainda é feita com alma, seja de que estilo for, e onde sentimos estar numa refeição de família. São os meus restaurantes preferidos e cada vez mais difíceis de encontrar. Mas felizmente, ainda vão aparecendo!
O La Bottega Di Gio é o mais recente desses restaurantes para mim, porque o conhecemos há apenas meras semanas. E foi amor à primeira vista! 😉
Teoricamente, este pequeno restaurante italiano em Campo de Ourique já tinha muita coisa a seu favor. Por ser italiano, porque o espaço anteriormente estava sobre a alçada dos donos do Il Matriciano (um dos melhores italianos de Lisboa, podem ler sobre ele aqui), e ainda porque quem agora ocupa o espaço é o simpático casal que até há um ano atrás era responsável pelo fantástico L’Artusi Ristorante (entretanto fechou, mas era provavelmente o italiano mais peculiar da cidade, e ainda podem ler aqui a nossa review). Muita coisa boa junta podia criar expectativas demasiado altas, mas aqui foram todas superadas!
A enorme montra deixa ver um restaurante pequeno, poucas mesas, iluminação baixa. Salta logo à vista uma das paredes, toda em pedra e com prateleiras cheias de produtos italianos, o que dá ao espaço um ar rústico e nos transporta para Itália, ou pelo menos para aquela Itália que temos no nosso imaginário. De resto, quadros completam as outras paredes, com imagens e recortes de jornal, mas tudo muito simples e genuíno.
Essa simplicidade e genuinidade não ficam apenas pelo espaço, transparecem também na comida (já lá vamos) e no serviço. Porque se é verdade que o Giovanni fica na cozinha e nos conquista pelo estômago, a Bárbara enche a sala com a sua boa disposição e simpatia! Com um sorriso sempre presente, somos recebidos como se fizéssemos parte da família. Falam-nos dos pratos do dia, que vão mudando consoante aquilo que vem do mercado, dos best-sellers que temos mesmo de provar (já lá vamos, já disse!). E a forma como nos são apresentados é tão apetitosa que queremos provar tudo!
Por isso, vamos lá falar sobre a comida. Que, como toda a comida italiana (ou toda a comida em geral), quer-se simples mas feita com alma! Sem grandes invenções, só ingredientes bons, cozinhados como deve ser e apresentados sem grandes preocupações. Porque estamos numa mesa de amigos! E qualquer mesa de amigos começa com algumas coisas para petiscar, como por exemplo uma tábua de enchidos, que aqui tem apenas três variedades mas não precisa de ter mais, porque é tudo excelente!
Ao mesmo tempo, uma daquelas entradas italianas que aprendemos a adorar e que – infelizmente – não se vê tanto como devia nos restaurantes italianos que existem aos molhos em Lisboa. O Vitello Tonnato é uma pasta que mistura de vitela (geralmente língua) com uma pasta de atum, resultando num sabor forte, intenso, salgado, ideal para barrar o pão ou para comer à colher, sei lá… ideal para comer e ponto final!
Somos várias pessoas na mesa, por isso as entradas vão-se sucedendo. A seguir temos uma Salada Caprese com Mozarella Bufala, mais um daqueles clássicos italianos tantas vezes esquecidos, mas que se transformam em algo fenomenal quando a matéria-prima é boa! E se a salada é do caraças, então a entrada que chega à mesa ao mesmo tempo é assim para lá de extraordinária! À primeira vista parece-nos um carpaccio normal… só que não! A Bresaola com Rucula e Parmigiano é exactamente aquilo que diz ser: bresaola (uma sarne seca e salgada, cortada em fatias finas, deliciosa) coberta com rúcula e queijo parmigiano, uma combinação simples e perfeita.
Já nem sequer estávamos a pensar em continuar, porque mais do que entradas, estávamos no registo dos petiscos à italiana, o que por nós era mais do que suficiente para passar uma noite fantástica. Mas ainda tínhamos o prato principal escolhido, por isso não podíamos dar parte fraca! Um Risotto Ai Funghi excelente, com um sabor imaculado, sem demasiado queijo a sobrepor-se a tudo o resto. O arroz talvez precisasse de mais um minuto ou dois de cozedura, mas a cremosidade é perfeita e está tudo muito equilibrado. Muito bom, muito bom mesmo. Tão bom que acabamos com tudo o que está no prato, mesmo depois de todas as entradas.
Mas se um risotto é um prato (teoricamente) mais complicado de fazer, o que realmente nos surpreendeu na comida do Il Bottega Di Gio foram as coisas mais simples. Por isso, e mesmo já estando completamente cheios, não dizemos que não quando nos perguntam se queremos ainda experimentar a Lasanha do Giovanni. Ainda que a lasanha seja daqueles pratos italianos que sempre achámos não ter grande “ciência”. Ora, estávamos completamente enganados! A Lasanha do La Bottega Di Gio é assim de muito longe a melhor lasanha que já comemos na vida! A textura da massa é fabulosa, a proporção de todos os ingredientes do recheio é perfeita, a carne está no ponto. O topo tem aquela pequena crosta de forno, não tem queijo a mais, enfim, nada a ver com nenhuma lasanha que já tenhamos comido antes. Uma maravilha! Ainda bem que não dissemos que não! 🙂
Cheios? Sim. Maravilhados? Sim!!! Mas nenhum refeição termina sem uma sobremesa, e aqui tínhamos mesmo de perceber o que nos estava reservado pela cozinha. Novamente, uma coisa simples: um Tiramisù. Pois, isso mesmo. Um tiramisù, simples, delicioso, com as camadas bem definidas, aquele intenso sabor a café, sem que nada se sobreponha a isso. Não há aqui invenções, é a receita mais simples e mais clássica, porque estamos numa casa de família.
É impossível sair do La Bottega Di Gio sem mais uma troca de piropos com a Bárbara, e por isso mesmo com um enorme sorriso na cara. E isto acontece quando nos sentimos bem, quando temos uma refeição fenomenal. E quando descobrimos um restaurante que merece ser descoberto… mas que ao mesmo tempo merecia ser um segredo só nosso. Um daqueles segredos que só partilhamos com aquelas pessoas de quem mais gostamos.
Nas ruas competitivas de Campo de Ourique, o La Bottega Di Gio tem concorrentes de peso e com muita história. Mas honestamente, não nos pareceu que o Giovanni e a Bárbara estejam assim tão preocupados… Este pequeno espaço permite-lhes fazer aquilo que mais gostam, que é servir comida maravilhosa a quem a quer provar, como se estivessem a abrir as portas de sua casa. E se isto é algo que deve acontecer em todo o tipo de restaurantes, num restaurante italiano faz ainda mais sentido.
Por isso é que é inevitável que o La Bottega Di Gio seja um daqueles restaurantes que nos surpreendeu tanto que entra imediatamente para os lugares cimeiros do nosso top de italianos em Lisboa! 🙂
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