Esta moda das petiscarias modernas já passou um bocadinho… de moda. Ao contrário do que aconteceu há três anos atrás, onde qualquer restaurante que abria se transformava numa petiscaria, com aspecto vintage e os mesmos petiscos de sempre, agora as novas petiscarias vão abrindo cada vez menos. E quando abrem, ou têm um posicionamento específico ou uma outro qualquer enquadramento. E é neste enquadramento que fazem sentido.
Talvez por isso mesmo, a Petiscaria da Terra faz todo o sentido… enquanto petiscaria de bairro. Porque está situada numa zona como o Lumiar, onde a oferta a nível de restauração não é assim tanta como no centro da cidade, nem tão variada. O que faz com que um sítio despretensioso, com uma oferta descomplicada como a Petiscaria da Terra acabe por ter uma clientela regular e muito assídua. Ou, em outras palavras, acabe por ser um sucesso.
A Petiscaria da Terra fica então no Lumiar, mesmo no meio do bairro, numa zona residencial e ainda por cima num prédio com arcadas, o que significa que não é o sítio mais fácil do mundo para encontrar. Mas isso não parece ser problema, porque quando chegamos o espaço está completamente cheio – almoço de Domingo – e até sairmos vão sempre continuando a entrar clientes, quer seja para almoçar ou simplesmente para beber um café e comer uma sobremesa. É a grande vantagem dos restaurantes de bairro!
O espaço é pequeno, e isto não é um eufemismo. Estamos mesmo a falar de umas 5 mesas, com capacidade para talvez 10 a 12 pessoas, e já apertadas. O que até é positivo, porque a cozinha também é muito pequena, e assim conseguimos perceber que o que vamos pedindo é feito na hora. O que, logo à partida, é um excelente começo!
A ementa desta Petiscaria tem muitos petiscos (desculpem a redundância), alguns pratos e depois hambúrgueres e bifes. São escolhas certeiras, dizemos nós, porque parece uma colectânea de best-off! Tudo nos parece bem e tudo faz sentido… mas somos só dois. Por isso, perguntamos a quem nos atende o que recomendam a nível de quantidade. “3 a 4 petiscos para duas pessoas, não é preciso mais”… e como somos bem mandados, é por aí que vamos!
E começamos logo com dois, daqueles que são mais clássicos! Por um lado, os Ovos Rotos, que estão excelentes a nível de sabor, mas onde houve duas coisas menos bem conseguidas: as batatas estavam demasiado encruadas (muito, mesmo…) e o ovo deviam ter vindo na travessa ainda estrelado, porque senão acaba por não envolver nada o conjunto...
Ao lado, a pequena travessa de Pica Pau traz-nos uma carne fenomenal e um molho excelente, sem nada a apontar. Daqueles molhos onde apetece molhar o pão até não haver mais pão nenhum! Pena a batata palha em cima, completamente desnecessária e que acabamos por tentar afastar do prato. Um pequeno pormenor num daqueles petiscos que parece simples mas nem sempre o é, e que aqui está perto da perfeição!
Quase ao mesmo tempo, chegam à mesa os Croquetes. Estes são de pato, acompanhados de uma compota de laranja, porque este bicho fica sempre bem com esse fruto. E a verdade é que os croquetes até são bons, mas melhoram assim umas duzentas vezes mais depois de molhados na compota. E isto não é negativo, é só uma prova de que quem idealizou este petisco percebeu exactamente como é que ele resultava. E resulta maravilhosamente bem!
Finalmente, o Camarão à Guilho, este menos apurado do que estávamos à espera. Muito menos… Do camarão não há muito a dizer, mas o molho nem é tão puxado ao alho nem ao picante como estaríamos à espera, por isso nem acaba o pão torrado que acompanha o petisco. O que é uma pena, é mesmo uma pena…
Queremos terminar com uma sobremesa, mas aqui a lista é um bocado mais curta do que no resto. Há bolos e tartes que vão mudando diariamente, mas felizmente no dia em que vamos há uma Torta de Laranja e Chocolate, uma sobremesa simples mas verdadeiramente deliciosa. A torta é perfeita, tanto na textura como no sabor, e o toque de chocolate enquadra-se aqui de forma extraordinária!
No fundo, são petiscos. Uns melhores, outros menos bem conseguidos, mas são petiscos. Num ambiente informal e de bairro, onde as pessoas vão entrando e saindo sempre com um “Olá!”, porque se conhecem. Às vezes os restaurantes não precisam de inventar muito, precisam apenas de encontrar o seu nicho no contexto em que estão inseridos, e isso é exactamente o que acontece aqui.
A Petiscaria da Terra não é a melhor petiscaria por onde já passámos, mas é uma petiscaria de bairro que cumpre o seu objectivo muito bem! E o objectivo é simples: servir petiscos caseiros a gente do bairro, de forma descomprometida, com simpatia e com preços (muito) acessíveis. E quem quiser entrar só para beber um café e comer uma fatia de tarte também é bem-vindo. Porque estes espaços de bairro têm de ser isso mesmo: sítios onde o bairro gosta de ir. Assegurando isto, tudo o resto vem por arrasto e é muito positivo. Muito positivo mesmo!
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