Aqui não há hipótese. A comida é mesmo muito boa, saborosa, reconfortante, e sobretudo genuína. As receitas veem dos dois irmãos (pelo menos eram muito parecidos) que gerem a cozinha, da mãe deles e sobretudo na maneira em como as receitas tradicionais gregas são interpretadas por aquela família da ilha de Creta. O restaurante estava imerecidamente quase vazio, e deu tempo para estas impressões. Sobretudo porque nenhum de nós dois estava à espera de comida tão boa. Acreditem: passo na zona à bruta e nunca me tinha batido para lá ir.Ela é que teve a bela ideia, porque e cito "me cheirou tão bem quando lá passei na outra vez".
Eu nunca estive muito tempo na grécia (aí uns 4 dias de vida), mas estive dois meses na albânia há pouco mais de um ano. Na zona sul da albânia, a imigração grega e o intercâmbio de produtos é mais que corrente. Mesmo muitos albaneses locais, a viver na zona sul da albânia, terão sempre o seu molho tsatziki caseiro, a sua moussaka, ou várias casas de souvlaki. O queijo, as azeitonas, o azeite local, têm muito mais confluência com as raízes gregas daquela população - e o clima que é muito parecido.
Posto isto, acho que tenho algum termo de comparação. Foi-nos recomendado o prato mezze de 22 euros, degustação de vários ítems da carta, e as conquilhas que vinham dum pescador específico do algarve, três vezes por semana. As conquilhas ainda vieram basicamente à borla o que foi extraordinário, e claro quentes como é normal nas paragens gregas. E estavam uma maravilha ,muito sumarentas, o molho era bom e equilibrado, e nem um grão de areia que se notasse. Petisco daqueles mais que simpáticos, embora pelo menos na albânia seja mais típico o mexilhão.
Vieram então uma quadrologia(?) de molhos, com o tsatziki, um hummus com tahine de laranja, um molho misto de queijos e...vai na volta era só isto e afinal eram três. Bem, comecemos: na albânia estivemos a fazer voluntariado num hostel durante um mês. Ele era gerido por uma miúda de 17(!) anos, o irmão e a mãe que trabalhava no hospital ali ao lado. Ia lá ajudar a limpar o hostel e fazer comida prós filhos, e a gente sacava umas sobras. Uma delas era o molho tsatziki. Que era fresquíssimo, um pouco líquido, muito sabor a pepino, muito fresco na boca. Entretanto já comi outros, e eram sempre muito mais sólidos, mais alho também, sem aquela frescura que me batia tanto. Mas aqui era mesmo aquilo: CASEIRÍSSIMO. não tem hipótese, é receita da mamã. Digo já: não ponho as mãos no fogo, mas acho muito difícil haver melhor tsatziki em lisboa. Muito mesmo. E de certeza que na grécia este é também um grande molho tsatziki.
O humus era surpreendente muito por causa da laranja, que lhe dava um toque bem agradável. E o molho de queijos, que tinha pimento, e me lembrava muito um dos toppings que nos balcãs eles metem nos hamburgers. era maravilhosamente bom, com um toque de picante, tinha várias densidades de palato, em que o pimento vinha primeiro, depois o cremoso do queijo e finalmente o tal toque mais quentinho que soube muito bem.
Ai jesus, ainda falta bué: os dacos de creta são uma espécie de bruschettas muito frescas, com um tomate picado que sabia a céu e um feta muito bom. só que bruschettas premium, fresquíssimas, com sabores que conhecia de outras paragens e ficava a reclamar que era difícil arranjar tomate daquele em Portugal. A comida começou por voar, mas nesta altura já estávamos bastante cheios, e o ritmo de caracol começou a assumir-se.
A moussaka, primeiro prato principal(!) estava belíssima. Leve e subtil, fresca, os temperos impecáveis: a pimenta, a canela, os cominhos com estes últimos naturalmente a sobreporem-se mas sem retirar o brilho dos outros. Batata cortada como deve ser, e mal se notava o bechamel, como eu gosto (isto não é uma lasanha). enfim, comi algumas moussakas, e esta só não bate uma específica que me foi servida num cafezinho da albânia. Mas uma coisa vos garanto: aquilo que eles nos deram é aquilo que a mãe e a avó fazem. Há verdade naquela comida.
Ainda vieram as "almôndegas", que mais não são que kebabs feitos como em qualquer sítio dos balcãs, mas com generosa dose de molho de tomate, batatas com tomilho e arroz. Epá, amanhã digo-vos como estava. Já estávamos tão cheios que só comemos um bocadinho de nada , e pedimos sobremesa.
Não me apeteceu pedir baklava(que possivelmente será bem boa também), mas pedimos torta de laranja, que esteve uns minutos no forno, com uma crosta crocante por cima. Veio acompanhada de iogurte grego, manjericão e romã. E foi das melhores tortas de laranja que comi na vida. Fabulosa filhos, mesmo. Leve, doce mas sem abusar, a textura espantosa...e o acompanhamento lateral equilibrava tudo olimpicamente.
Ainda nos deram novamente à pala um licor da casa, quente pela estação em que estamos. Aguardente com mel e canela, flambejada à nossa frente, e brindámos com quem nos atendeu, também com uma mão na cozinha. Depois, jesus que inchaço na barriga.
Posto isto: óptimo atendimento no nosso caso (verdade que havia pouca gente, mas foi muito bom), a comida espectacularmente genuína e caseira, a um preço bem justo ainda por cima tendo em conta a quantidade das doses. Aqui têm uma experiência de comida tradicional grega e caseira, como se tivessem numa tasca tuga a comer os benditos carapaus com arroz de tomate. só que em grego. é basicamente isso, e pelo preço cobrado só têm de lhes agradecer. Por favor apareçam, porque não é fácil por vezes encontrar restaurantes que valham mesmo a pena. Este vale claramente. E merece muito que o visitem e se sintam em casa. Porque a verdade que esta comida transporta é a de uma mãe a cozinhar para os filhos.
ps: quanto à decoração: pessoalmente eu quero é comer bem, mas entendendo isso. acho que é dar tempo ao tempo. estão-se a focar no mais importante para já. Que o algoritmo do zomato lhe suba a pontuação!
An error has occurred! Please try again in a few minutes