É inevitável estar no Kitchen Chiado e não pensar no extinto Orange. Local de eleição para jantares de grupo, principalmente de adolescentes, com pratos tipo bifinhos com cogumelos e, claro, bebidas à descrição. O que é basicamente o oposto do posicionamento do Kitchen Chiado. E isto, por si só, mostra a coragem que tiveram os responsáveis pelo novo restaurante, porque não é fácil mudar mentalidades e rotinas.
Mas o Kitchen Chiado nada tem a ver com o restaurante que estava no número 21 da Rua São Pedro de Alcântara. Percebemos isso quando lemos as primeiras notícias acerca da abertura e confirmamo-lo quando nos aproximamos da porta. As montras grandes deixam antever um espaço muito cuidado, com um toque de sofisticação mas ainda assim informal qb. Se quisermos, um pequeno passo acima da tasca moderna, mas sem pretensões a ser efectivamente um restaurante de requinte. Só o plasma num canto da sala a passar jogos de futebol é que manda um bocadinho o ambiente para baixo…
A “fauna” é um misto de turistas e locais, e o serviço ajusta-se a ambos, sem preferências. A carta também tem a versatilidade para agradar a todos, dividida entre uma primeira parte dedicada aos petiscos e uma segunda parte com pratos principais, maioritariamente de carne. Nada de surpreendente à leitura, mas opções seguras para os dois targets, o que é inteligente tendo em conta a zona da cidade.
Começamos com as bolinhas de alheira, cujo recheio de queijo da serra promete mas na realidade é quase nulo. Não são más, as bolinhas, podiam apenas ser muito melhores. Bem melhores os ovos mexidos com farinheira, soltos, bem temperados, proporção ideal entre ovo e farinheira.
Nos pratos principais, ficamos pela carne. O Bife à Kitchen (versão da vazia) apresenta-nos um bom naco de carne, cozinhado no ponto, coberto com queijo da serra. Mas tem o grande (enorme) problema de vir colocado em cima das batatas fritas, que com o molho e os sucos do bife passam a ser uma papa… moles e ensopadas. É uma apresentação diferente, compreendo, mas, na nossa opinião, não resulta assim tão bem.
Por outro lado, os lombinhos de porco Kitchen Chiado são apresentados sobre uma cama de rúcula, que dá um toque de acidez ao prato mas tem um resultado semelhante, ao nível de tornar a rúcula mole e quente. Bons os lombinhos, sem dúvida, com molho de cogumelos e queijo gorgonzola, acompanhados de umas belas batatas a murro.
As doses são bastante bem servidas, e a adição de molhos nos dois pratos torna-os ainda mais substanciais.
Nas sobremesas, vamos para os waffles, gulosos, dos quais há várias opções, e que têm em comum o tamanho bastante acima da média. Ninguém se pode queixar da relação quantidade-preço nos pratos do Kitchen Chiado.
O “fantasma” do antigo restaurante que ocupava aquele espaço desaparece rapidamente, sendo que só voltamos a pensar nisso quando saímos do Kitchen Chiado. É preciso ter coragem para abrir um restaurante com um conceito completamente diferente num espaço onde havia outro tão emblemático, mas os responsáveis do Kitchen Chiado parecem ter uma ideia definida sobre onde pretendem estar. A base é a cozinha portuguesa, mas o toque de sofisticação ajusta-se à zona e ao posicionamento do restaurante. E com algumas afinações a nível de empratamento, o futuro parece prometedor para o Kitchen Chiado.
An error has occurred! Please try again in a few minutes