Raízes Profundas.
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Um dos meus locais favoritos em Madrid, chama-se La Carmencita. Uma das tabernas mais antigas de sempre na cidade, gosta de se elogiar pelo facto de utilizar receituário que já possuia à mais de 150 anos.
Nada que não pudesse passar por cá pelo Tavares Rico, mas a verdade é que não passa.
Sabe bem ponderar este tipo de distância na sabedoria daquilo que se come.
Foi com este pensamento, com esta necessidade de querer ver e saber, no centro de Lisboa, o que poderia trazer o Raízes.
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A lista não é grande (como o espaço, o pessoal da casa e o país que representa).
Num grupo já composto, ainda se provou uma percentagem interessante do menu:
O coberto, começou com pão em caixa fechada (e bem fechada que era dos gulosos) acompanhado de um azeite de linguiça. Talvez a combinação do azeite até nem fosse a mais sensata, mas com aquele pão, não parava de se comer.
Moelas, pequenas e acompanhadas de grelos, bem tratadas apenas pela grelha (uma raridade), pouco passadas até, com uma humidade pouco habitual.
Uns peixinhos da horta, bastante uniformizados quer em diâmetro, quer em comprimento, com uma mayonnaise caseira de sabores mais ácidos e com harmonização perfeita.
Já na listagem principal, uma massada dita de tamboril e camarão, que nunca será dos meus pratos favoritos. Valor para a massa no ponto (preferível no primeiro serviço, que depois vai continuando a cozinhar), cotovelos miniatura e pela abundância do recheio.
Arroz de berbigão e filetes de peixe-galo. O que amo peixe-galo. Feio como tudo, espalmado entre dois autocarros, com uma bocarra cheia de dentes, cinzento e castanho por fora, o pobre não é pelos lindos olhos que vai lá. É simplesmente porque é muito muito bom. E se em Matosinhos é sempre tratado de uma forma excepcional, servido grelhado à mesa, autopsiado por mãos experientes, que cada uma segurando em dois talheres fazem milagres, aqui também não se saiu mal. O arroz de berbigão de acompanhamento, parecia incorporar a mesma base da massada. Mas eu gosto mais de arroz do que de massa.
Cachaço de porco: daqueles que passou o dia a marinar numa panela e ficou assim: a desfazer. Um molho denso que se farta (gravy mas com os nossos sabores), feijão verde para contrastar e batata doce frita às rodelas (chips, não tem muito de “raízes”) para viciar.
Costoletas de borrego com migas: Muito boa qualidade no borrego, uma quantidade demasiado grande, e migas com muito feijão frade e broa de milho, soltas e untuosas.
Continuámos apesar da abundância com as sobremesas (uns mais que os outros diga-se), com a torta de cenoura e chocolate de três formas. Em abono da verdade, o jackpot diria que é mesmo combinar estas duas sobremesas. É conseguir “molhar pedaços da torta, na mousse, adicionar o crocante em cima, comer tudo junto.
Alguma piada também, na escolha dos vinhos (quase tantos como os pratos), para um Holandês radicado à gerações no Douro, fazer um Dão é algo que só aquela família concebe.
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Em dia de Sol, dos poucos memoráveis deste inverno, em hora tardia, por requisito vital de um dos participantes, lá nos dirigimos a um dos Largos mais inusitados da urbe.
Encontrado o estacionamento (mais fácil do que alguma vez tinha ponderado), foi com alguma surpresa, que entrámos num espaço vazio, enquanto o do lado enchia inclusivamente a esplanada. Não sendo propriamente concorrentes também não era expectável.
Parco de assentos, cores mate, uma pequena ante-câmara com balcão, protege a sala interior, numa fiada única que termina na cozinha.
O pessoal de sala, reduziu-se naquele dia a uma só presença, o proprietário. Correcto, delicado, presente (só estávamos nós é certo) onde seria fácil ser intrometido. Genial mesmo, conseguir fechar um estabelecimento à hora de lanche para padrões portugueses, sem sequer deixar de esboçar um sorriso, para aquela mesa ocupante, por horas em demasia.
A decoração global, face ao que é praticado e imitado na cidade acaba por ser original, com o candeeiro por cima do balcão, a fazer lembrar o Pedro e o Lobo (não totalmente, mas a recordar).
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O campo na cidade.
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#zomato40 #tradicional #cidadeadentro #ateremconta
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