Esta é a terceira tentativa que faço para escrever este texto. Isto porque, e indo já direito ao fim, me faltam adjectivos para descrever a experiência que tivemos no Loco. E experiência é a palavra certa, porque há jantares que não são “simples” jantares, são verdadeiras experiências que por acaso acontecem à volta da mesa. As 3 horas que passámos no Loco foram provavelmente das mais interessantes que já passámos num restaurante. E foram de certeza absoluta as mais fora do comum!
O LOCO é o (mais ou menos) novo projecto do Chef Alexandre Silva, que muitos devem conhecer através do food corner no Mercado da Ribeira. Com um percurso que já passou pelo excelente (e extinto) Bocca, pelo Bica do Sapato e ainda pela cozinha do Alentejo Marmòris Hotel&Spa, o Chef Alexandre é para nós, e já o escrevemos aqui várias vezes, um dos melhores chefs da sua geração, na forma como trabalha os produtos e não tem medo de arriscar. Mas tudo aquilo que já conheçam do Chef não vos consegue preparar para um jantar no LOCO. Mas nem de longe.
Não vamos descrever pratos, porque aqui o conceito passa por proporcionar ao cliente uma experiência que vive de momentos (14 ou 18). Momentos porque tudo no LOCO foi pensado para nos fazer desfrutar. Do espaço (intimista e sofisticado), do serviço (mais informal do que seria de esperar, e também por isso muito melhor conseguido, por nos faz sentir à vontade e parte do processo) e do próprio trabalho dos cozinheiros. Porque aqui a cozinha aberta é realmente aberta, e como a sala é próxima, sentimo-nos parte da equipa que está a confeccionar os pratos para nós. Ou seja, partilhamos esses momentos, que depois nos são apresentados, já na mesa, por quem os confeccionou.
Há uma teatralidade muito bem estudada em todos os momentos deste jantar, que se estende a pormenores extra comida – e que não vamos revelar porque fazem parte de toda esta experiência única.
Produtos sazonais, sempre, o que faz com que estes momentos vão mudando regularmente. Momentos absolutamente incríveis como o pastel de bacalhau, a cenoura com barriga de porco fumada, zimbro e rábano picante, o pão com chouriço ou o gaspacho gelado… onde nada é o que parece e tudo mexe com os nossos sentidos, todos eles.
As fotos não fazem juz à qualidade do que nos vai chegando à mesa, numa cadência perfeita, e sempre com uma dose de familiaridade e mesmo algum humor. Mesmo a própria lógica da refeição normal é subvertida, com o momento do pão a ser-nos servido a meio do jantar. E claro, não é um simples pão com manteigas, é muito mais do que isso.
Os momentos sucedem-se, e recomendamos vivamente que optem pela harmonização com os vinhos seleccionados, porque transformam a experiência em algo ainda mais especial e único. Aliás, vinhos… e não só. Mas, novamente, não vamos estragar a surpresa.
Puré de aipo, molho de mão de vaca e cogumelos selvagens, carapau com molho de cebola ou peito de pato curado e fumado com compota de marmelo e couve salteada, verdadeiras obras-de-arte que tivemos o privilégio de saborear, enquanto o tempo ia passando quase sem darmos por isso. Sabores excelentes e, a maioria das vezes, muito próximos de nós. Quase familiares.
Perdemos a conta aos momentos, a determinada altura, porque estamos demasiado envolvidos. Sentimo-nos em casa, parece que conhecemos os chefs desde sempre. Só percebemos que estamos a chegar ao fim quando os momentos se transformam em sobremesas. Côco, papaia e maracujá ou diospiro e castanhas, claro, porque está na estação.
Num momento final, o café. Um café que, por si só, vale a visita ao LOCO. Um momento final perfeito para terminar um jantar que é absolutamente inesquecível.
Agora que foram anunciadas as novas Estrelas Michelin em Portugal e o LOCO é uma delas, a verdade é que merece uma como mais nenhum restaurante novo em Lisboa. Mas honestamente, não me parece que o Chef Alexandre Silva e a sua (excelente!) equipa estivessem assim tão preocupados com isso. O LOCO é um restaurante de experiências, que promove momentos de partilha entre quem cozinha e quem prova, uma partilha informal e quase familiar. A estrela aqui é o conceito, é a ideia de um Chef que não tem medo de arriscar e quebrar regras e convenções.
Honestamente, é uma experiência única em Lisboa, e que recomendamos que tenham pelo menos uma vez na vida. Porque momentos destes ficam-nos gravados na memória para sempre.
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