A questão da criatividade/fusão quando aliada ao sushi não é um tema novo naquilo que escrevemos. Aliás, é recorrente. Que muitas vezes a fusão é utilizada para esconder a má qualidade do produto, ou a falta de perícia de quem o trabalha. Mas que temos encontrado cada vez mais exemplos que nos fazem mudar de ideias e nos mostram que a fusão, quando bem feita, pode dar-nos uma experiência muito agradável.
E repetimos esta questão por causa do Unique Sushi Lab, um dos novos restaurantes japoneses de Lisboa. Que se define exactamente por ser um laboratório de ideias, um sítio onde a criatividade fala mais alto e a conjugação do produto português e as técnicas japonesas reina. Ambicioso, não? Vamos ver.
A localização não é a melhor. Porque o restaurante fica “perto” da Avenida da Liberdade, mas numa rua interior, de sentido único, sem grande iluminação, sem gente nenhuma… Ou seja, antes de entrar, não ficamos nada impressionados.
Mas felizmente o cenário muda de figura assim que entramos no restaurante! O Unique Sushi Lab consegue passar a ideia de ser um espaço “criativo” através do próprio espaço. O restaurante é dominado pela cozinha aberta – completamente aberta, é mesmo mais tipo um balcão – onde vemos os sushi men atarefados, mas tem muito mais do que isso.
O jardim vertical noutra parede dá um ar exótico ao restaurante e depois o mobiliário minimalista e a iluminação localizada fazem o resto. Um espaço que transmite a sofisticação que procura, assim como a ideia de laboratório (reparem no pormenor delicioso da peça com os molhos).
E por falar em delicioso, vamos então perceber o que é que o Unique Sushi Lab tem de único!
Começamos com dois dos cocktails exclusivos da carta, uma espécie de introdução ao laboratório de ideias que o Unique Sushi Lab pretende ser: o Samurai Sweet (com vodka, sumos de laranja e limão, xarope de açúcar e clara de ovo) e o What’s Abi? (sakê, sumo de lima verde, xarope de açúcar e folhas de manjericão). Um mais doce, o outro mais ácido, mas ambos muito bons e, acima de tudo, bem pensados para acompanhar o sushi que aqui é servido.
Depois, e antes de qualquer prato nos ser servido, o Chef faz-nos uma pequena introdução ao conceito do restaurante. Algo do género: “Em Lisboa há muitos restaurantes de sushi muito bons, por isso se nos queremos destacar temos de fazer qualquer coisa de muito diferente!” Para nós, um misto de sentimentos: curiosidade e algum receio.
Para começar, as Gyosas, de carne e vegetais, sem nenhuma invenção mas com a massa semi crocante e o recheio bastante bom. Depois, seguimos com as “invenções”: o Ceviche de Panko, com sumo de limão, cebola roxa e redução de balsâmico, acompanhado de chips de batata doce. Muita coisa junta, mas um snack para comer à mão e que é delicioso! E picante! E delicioso!!
Quase ao mesmo tempo, o Gnochi de Batata Doce com Wasabi, molho de Shitake e licor de ameixa, ou Wasabi Ball para ser mais simples. Criativo sem dúvida, mas os gnochi estavam um bocado secos, talvez pelo facto de serem de batata doce… Tudo o resto bom, menos o raio das bolinhas :/
Continuando com as coisas diferentes do habitual, o Nigiri de Percebes. Sim, isso mesmo. Um nigiri com percebes e ainda ovas de salmão e lâminas de pepino. Um intenso sabor a mar, texturas atrás de texturas, uma peça maravilhosa e que nos abre o caminho para as “invenções” de forma magnífica.
Mais coisas diferentes num combinado que nos chega à mesa, uma espécie de best off das criações do Chef. Criatividade, é verdade, mas nem tudo é consensual… Destaques positivos ao Vieira Mysth (tártaro de vieiras picante, com trufas, enrolado em salmão, um dos melhores da noite assim de longe!), o Salmão Tobiko Uzura (com tobiko, ovas de peixe voador e ovo de codorniz) e, mesmo mais simples, os fabulosos niguiris de salmão e de camarão. Depois um gunkan com caranguejo real e pepino, interessante, e outro niguiri com enguia e ovas, demasiado estranho, na nossa opinião. Neste combinado ainda pudemos experimentar o atum e as vieiras, ambos braseados, bons mas menos impressionantes.
Excelente apresentação, desde a louça utilizada até à própria composição das peças, o que faz todo o sentido tendo em conta o tipo de espaço em que estamos. A estética assume um papel importantíssimo no Unique Sushi Lab, mas felizmente a qualidade do produto e a mestria de quem faz o sushi acompanha esse lado mais visual!
Para o final, ainda dois hot rolls, “Especiais do Laboratório”: um maki frito com tártaro de salmão picante no topo (bastante bom, mesmo tendo em conta que os hot rolls não são bem a minha praia) e outro maki frito mas desta vez com tártaro de atum kimchi em cima (que honestamente achei o menos interessante de toda a noite, por ser demasiado doce).
Depois de tanto sushi e de tantas “invenções” (das boas!), a expectativa em relação à sobremesa era grande. Até porque temos sempre este problema na maioria dos restaurantes japoneses: as sobremesas são sempre pouco interessantes ou mais do mesmo. Ou seja, não estávamos minimamente preparados para o que nos serviram. Quando nos disseram “crème brûlée de chá verde” a nossa primeira ideia foi que não ia ser nem uma coisa nem outra… mas estávamos completamente enganados!! O sabor do chá verde no creme é intenso mas muito bom, mas depois o açúcar queimado por cima dá-nos aquele gosto que associamos a um típico leite creme… perdão, crème brûlée. Uma sobremesa fantástica, que vai de certeza constar no top das melhores sobremesas deste ano!
É sempre muito bom terminar um jantar com uma sobremesa fenomenal. Mas é ainda melhor quando todo o jantar é uma experiência consistente. E, no caso do Unique Sushi Lab, houve algo que esteve presente durante todo o jantar e em tudo aquilo que provámos: a vontade de ser diferente, de tentar inovar. No fundo, é essa a ideia por trás de um laboratório, experimentar coisas novas e diferentes. Nem tudo o que provámos foi bem sucedido, mas felizmente foi uma minoria. O Unique Sushi Lab é realmente um laboratório de ideias, um espaço de invenção no que respeita ao sushi. E a grande parte dessas invenções são realmente fora do comum e, acima de tudo, excelentes a nível de sabor.
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