Petiscos há muitos, tascas modernas há ainda mais. Podia ser uma espécie de um ditado mas infelizmente é a realidade da restauração em Lisboa. As ditas “tabernas modernas”, que recriam o imaginário das tabernas antigas, e que têm uma ementa sempre com os mesmos petiscos. Quase todas iguais, porque não procuram sequer ter um factor que as distinga umas das outras.
Ora, talvez por causa desta nossa ideia pré-concebida, ficámos agradavelmente surpresos com a Prova – Enoteca, ali no Restelo, mesmo junto ao Careca. Uma espécie de tasca moderna mas com um conceito diferente e que a torna muito mais relevante.
A designação “Enoteca” torna-se mais ou menos óbvia ao entrar dentro do restaurante. O espaço é pequeno, com 4 ou 5 mesas, mas a nossa atenção vai logo para a parede da esquerda, a da garrafeira. São dezenas (centenas?) de referências, algumas já nossas conhecidas mas a maioria são menos óbvias. Todas as garrafas podem ser compradas ou bebidas no restaurante, o que ainda sabe melhor. No Prova – Enoteca há também sempre algumas opções de vinhos a copo (branco, tinto e rosé), como não podia deixar de ser.
Em frente à garrafeira, quase no meio da sala, um móvel com os mais diversos produtos de mercearia: conservas, enlatados, azeites, compotas, doces tradicionais, azeitonas, patés… enfim, de tudo um pouco. Tudo aquilo que podemos petiscar aqui é proveniente desses inúmeros produtos, o que tem uma razão de ser interessante: provas, gostas, compras para levar para casa. Parece-me bem!
Não apanhámos o dia da semana em que há ostras da Ria Formosa (quintas-feiras), mas ainda assim há muitas opções na ementa, num registo de petiscos, tábuas e outras coisas para partilhar. Petiscos e um copo de vinho… há lá coisa melhor?!
Os pratos vão chegando à mesa com uma cadência regular, porque se trata de petiscos e podemos ir misturando várias coisas. Por exemplo, a Salada de Figos e Queijo Feta é uma boa surpresa, sendo que não é fresca nem quente, porque os figos são assados no forno, mas resulta bastante bem a nível de sabor.
Um velho clássico das petiscarias, os Pimentos Padrón, aqui com Tomate Cherry e Flor de Sal. Bons os pimentos (ainda que nenhum “pique”), excelente a adição da flor de sal, diferente a utilização de tomate cherry assado (resulta bem visualmente, pelo menos).
O escabeche foi uma coisa que descobri tarde demais na minha vida, mas que agora adoro e peço sempre que vejo numa ementa. Neste caso, a Perdiz de Escabeche. Sou exigente, porque gosto do sabor mais ácido, mais intenso, mas dizem-me que é excelente, por isso não hesito! O escabeche é um dos produtos disponíveis para compra no restaurante, em dois tamanhos diferentes. E posso dizer-vos que é mesmo muito bom! Gosto dele um pouco mais “agressivo”, mas este escabeche está muito equilibrado e saboroso, ao ponto de acabarmos o pão todo e ainda irmos buscar o do cesto do couvert. Que maravilha!
Seguimos com o mais próximo de um prato principal, mas ainda assim servido sempre como petisco. Trata-se do Bacalhau à Prova, com uma base de puré de batata doce, bacalhau desfiado (de conserva, claro) e broa, tudo misturado e empilhado numa forma cúbica, servido com uma salada perfeitamente desnecessária (e tomate cherry, outra vez) e com gomos de laranja que lhe dão o contraste necessário. Ainda assim, foi o prato menos interessante da noite.
Depois de tudo isto, ainda há tempo para dar um saltinho a outra das áreas da carta: a das Tibornas. Neste caso, a Mista de Tibornas, com 4 unidades que são uma espécie de best-of de todas as da lista. Esta mista traz a de Farinheira com Mel e Coentros (rica, saborosa, doce…), a de Queijo de Cabra e Frutos Secos (menos surpreendente, ainda que seja uma combinação sempre vencedora), a de Petinga com Molho Pesto (excelente) e a melhor de todas, com Chutney de Cebola Roxa com Cogumelos Shiitake. Uma ideia vencedora, esta mista, ainda que voltemos a ter demasiado tomate cereja em todo o lado. Compreendo que dá cor, mas acaba por ser um pouco exagerado…
Ainda há na carta algumas sandes e tábuas de queijos e enchidos, mas fica para outra oportunidade. Para terminar o jantar, escolhemos duas sobremesas de uma lista que tem velhos conhecidos. Novamente, não se tratam de sobremesas caseiras mas sim doces emblemáticos de várias zonas do País, que estão expostos na zona da mercearia e que podem ser comprados para levar para casa.
O Requeijão de Vaca com Doce de Abóbora é simples mas bom, não tem história nem precisa de ter, só tem de cumprir; e o Pastel de Feijão de Torres Vedras – que é um doce muitas vezes esquecido – é bastante bom, o ideal para acompanhar o café.
Como vêem, aquilo que podia ser apenas mais uma tasca moderna é afinal uma coisa completamente diferente. A Prova – Enoteca é um restaurante sim, mas mais do que isso: é uma montra de produtos, do melhor que se faz por cá a vários níveis. Não só é de louvar o dar notoriedade a pequenos produtores como é muito interessante podermos levar para casa o que acabámos de comer ou beber… e gostámos. É por isso que nem a designação “enoteca” nem “restaurante” nem “mercearia” são completamente exactas, porque a Prova é de tudo um pouco.
E no bairro onde está situado, este tipo de espaço faz todo o sentido.
An error has occurred! Please try again in a few minutes