Assim como já era fã do “Kitchen Nightmares” do Gordon Ramsay, também agora sou fã do “Pesadelos da Cozinha”, programa de domingo à noite na TVI. Aliás, não sou só eu, pelas audiências somos muitos. No fundo, porque gostamos de ver sangue, não é? Gostamos de ver a desgraça dos outros. E o modelo do programa destaca todos os pontos maus dos restaurantes que visitam (alguns vimos a saber que nem são verdade), para depois lhes dar a volta e fazer cada restaurante “renascer das cinzas”, como a Fénix. No meio disto tudo, e se calhar ainda mais importante que os restaurantes em si, está o Chef Ljubomir Stanisic, cuja personalidade leva o programa a um nível ainda mais interessante, porque estamos sempre à espera de quando é que ele se vai passar de vez! São as maravilhas da televisão.
Ora, dos restaurantes que passaram pelo programa (ou por onde o programa passou), alguns fecharam, outros tiveram sucesso, e vamos sabendo disso depois de cada episódio, através de mil e uma reportagens. Mas, desta vez, resolvemos antecipar-nos! E fomos jantar ao próximo restaurante que vai aparecer no programa!
E antes de começar, deixamos o aviso: este artigo contém “spoilers”!
Andámos às voltas ao lado dos jardins do Casino do Estoril à procura do Pinto’s 2, até que resolvemos ligar para lá. “Ah, o restaurante já não se chama assim, agora chama-se Galeria”. Pronto, primeira mudança, que explica não encontrarmos nada na net acerca do restaurante.
O Galeria Mozzarella Gastrobar fica mesmo ao lado dos ditos jardins, uma localização excelente para qualquer tipo de restaurante. Com uma grande esplanada no exterior, ideal para os dias/noites de Verão, e uma seta em néon a convidar-nos a entrar no restaurante. O interior é muito sóbrio, paredes cinzentas, mesas de madeira e, claro, o que dá nome ao restaurante: por um lado, logo à entrada, uma balcão com as mozzarellas expostas e, por outro, muitos quadros nas paredes. O conceito de galeria de arte está muito bem materializado, porque nos sentimos realmente no meio de uma exposição. Destaque para a mesa redonda central, com cadeiras de madeira que são pintadas de novo com alguma regularidade, obra de artistas locais – outro dos legados deixados pelo programa.
A ementa é um misto de italiano com best-sellers da cozinha portuguesa, porque afinal estamos numa zona altamente turística e há muitas pizzarias e italianos na zona. Os preços são um pouco acima da média, mas esperamos para ver as doses.
Pedimos sugestões a quem nos serve e, curiosamente, não nos sugerem a mozzarella… mas falam-nos do prato que mais sai na casa, que é o Bacalhau à Casa. “E o que é o bacalhau à casa?” pergunto eu, indeciso. “Pois, é assim uma posta de bacalhau…” E eu insisto: “Sim, mas é cozinhada como, servida com o quê?” Mas fico na mesma: “Pois, não sei bem os temperos, mas é assim uma posta grande…” Ok, vamos esquecer o bacalhau e escolher outra coisa. Quando o empregado que te atende não te sabe explicar como é o prato que tem mais saída, se calhar segues em frente.
Começamos com duas bruschettas, bem servidas e muito saborosas: a Caprese, clássica, com um pesto de manjericão fenomenal, e a de Bacalhau, com duas cebolas, pimento e bacalhau, puxada ao azeite. Pão perfeito em ambas. Muito bom, sim senhor!
“E agora? Vão desejar sobremesa ou café?” é a pergunta que nos fazem quando levantam as tábuas das bruschettas da mesa… Serviço a marcar pontos.
Não muito tempo depois chegam os pratos principais, onde temos dois tipos de surpresas diferentes: as doses são bastante grandes (e percebemos que se ajustam ao preço), mas os empratamentos deixam um pouco a desejar. O risotto está quase a cair do prato, o peixe vem meio partido… enfim, vamos ver no programa se estas foram sugestões do Chef Ljubomir.
Pior do que isso, o entrecote vem cheio de um molho de frutos vermelhos – que não vem indicado na lista. Pode ser mania minha, mas gosto do entrecote sem nada em cima, porque quero saborear a carne. E, se é para ter molho, prefiro saber logo de antemão. Perguntamos a quem nos trouxe os pratos que molho é… e a resposta é “não sei, tenho de ir perguntar”. Passado uns minutos, outra empregada vem dizer-nos que é de frutos vermelhos. E, fast forward para o final da refeição, ainda outra empregada diz-nos que é vinagrete. Confuso, não é?! Pois…
Ainda assim, o entrecote em si é bem saboroso, a carne é boa, ainda que o molho seja tão intenso que lhe apague um bocado o sabor. Os legumes salteados que acompanham o prato são sofríveis. Por outro lado, o filete de dourada com risotto de açafrão e burrata não tem nada a apontar: o peixe está cozinhado na perfeição (podia ter mais sal, mas isto é um mal geral na restauração moderna), o risotto está bem conseguido e a burrata dá-lhe ali um toque interessante, sem dúvida.
Outro empregado, mais divertido, com sugestões de sobremesas. Pedimos o cheesecake e a pannacotta de manjericão… ambas com o mesmo molho de frutos vermelhos que tinha a carne. Será que serve só para estes três pratos ou ainda há mais? De qualquer forma, melhor a pannacotta, com textura boa e sabor intenso a manjericão, do que o cheesecake, servido num frasco mais demasiado líquido.
No final do jantar, sem dizermos quem somos, perguntámos sobre a participação no programa, com genuína curiosidade. E responderam-nos a tudo sem qualquer problema, com boa disposição. Pois que, ao contrário daquilo que passa em cada episódio, foi a produção que entrou em contacto com os donos de restaurante e não o contrário. Ou seja, não houve nenhum “pedido de ajuda”. Assim como também não houve grandes dramas na cozinha, nem produtos estragados nem coisas por limpar. Alguma implicância com os empregados (o que, pela descrição em cima, dá para perceber porquê), mas de resto foi tudo direccionado para discordâncias entre os gerentes. Mais nada. Aliás, o agora Galeria foi alvo de uma inspecção da ASAE ainda esta semana (que coincidência…) e estava tudo perfeito.
Mas como sabemos que se trata de um reality show, vamos ver o que nos mostra o programa deste Domingo.
Por nós, com ou sem “pesadelo na cozinha”, o Galeria Mozzarella Gastrobar é um restaurante que tem tudo para dar certo. A localização é perfeita, o espaço é realmente adequado ao conceito e com imensos pormenores engraçados, e a comida, não sendo surpreendente, tem o seu valor (além de boa relação quantidade-preço). O serviço tem de ser muito mais atento e profissional, porque pode tornar a experiência menos agradável, mas isso treina-se.
Vamos ver o que diz o Chef Ljubomir! 😉
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