Sushi 1 – Risotto 2
O título pisca o olho ao termo futebolístico, porque estamos em período de Mundial, mas também serve de metáfora para os pratos que provámos no Villa Saboia. Porque o restaurante tem duas cartas diferentes e aquilo que nos pareceu menos interessante foi o sushi. Sendo que o resto dos pratos, da carta mais contemporânea, surpreenderam-nos bastante!
É inevitável criar expectativas, e talvez não as melhores. Restaurante de uma estrela de televisão, muito mediatismo, estratégia forte de comunicação nas redes sociais… já vimos isto acontecer algumas vezes e, sendo muito honestos, com pouco sucesso a longo prazo, muito porque o buzz de comunicação não é suportado por uma boa equipa de cozinha ou de sala. Felizmente, e para tirar já todas as dúvidas, isto não acontece no Villa Saboia. Porque a comida nos surpreende e muito, pela positiva!
O Villa Saboia é o restaurante do actor Lourenço Ortigão, para quem não sabia. Aliás, é difícil não ter conhecimento disso, uma vez que está assinalado várias vezes na ementa. Que até tem uma zona com a descrição dos projectos do actor. Enfim…
A realidade é que não achamos que o restaurante precise de nada disso, porque não é preciso nenhum “gimmick” quando a comida que serves é muito boa. Tão simples como isso. E grande parte daquilo que provámos no Villa Saboia não só é muito melhor do que estávamos à espera, como é muito melhor do que o que se serve pela Grande Lisboa.
Mas vamos por partes.
O couvert não é surpreendente (manteiga de ervas, pasta de atum) mas traz bolo do caco, o que é sempre diferente do habitual. Serve para entreter, vá lá. Pelo menos até chegar a única entrada que pedimos, as Gyosas com Erva Príncipe. Habitualmente gosto mais delas quando são passadas pela chapa, mas estas gyosas fizeram-me mudar de ideias! Tanto a massa como o recheio estão perfeitos, mas o melhor é mesmo o caldo de erva príncipe em que estão embebidas, que é delicioso! Ao ponto de lá irmos molhar os restos do pão. Não havia melhor forma de começar o jantar!
Talvez por vir depois de umas gyosas tão boas, o combinado tradicional de sushi e sashimi é muito pouco surpreendente. E atenção que não estávamos à espera de peças elaboradas ou criativas, porque gostamos mesmo do sushi mais clássico. Mas neste combinado tudo é perfeitamente normal: nem o peixe é maravilhoso, nem os rolos são inesquecíveis. É um combinado normal, como já comemos dezenas de vezes, só isso. Mesmo não sendo de fusão, e porque a carta de sushi é maior do que o resto dos pratos, esperávamos muito mais.
Felizmente, tudo estava para mudar com os pratos que nos são servidos de seguida. Dois pratos de ementa mais contemporânea, e cada um melhor que o outro.
Há vários risottos na carta, entre pratos principais e acompanhamentos, e ficamos indecisos entre o risotto de espargos, o risotto de lima que acompanha o salmão braseado ou aquele que acabamos por pedir: o Risotto de Laranja, acompanhado com Magret de Pato. E, na “batalha” entre o sushi e o risotto, o último ganha de longe! O risotto de laranja é delicioso, com um equilíbrio perfeito entre a laranja e o queijo, mas o magret de pato do qual é acompanhamento não lhe fica nada atrás! No ponto perfeito, fatias com o tamanho ideal, um prato excelente!
E o outro prato que pedimos também é uma maravilhosa surpresa! O Bacalhau A Baixa Temperatura com Brás de Espargos é talvez uma aproximação ao bacalhau à brás, mas com o bicho servido numa posta cozinhada na perfeição, com um molo que parece de ovo por cima. A acompanhar, o tal brás de espargos que, quando junto ao bacalhau, dá-nos aquele sabor tão familiar. O pormenor final é a espécie de crumble de azeitona que serve de topping ao prato. Muito bom, e muito melhor do que estávamos à espera!
As perguntas constantes “Está tudo bom?” ou “Estava tudo bom?” acompanham-nos durante todo o jantar, tornando-se repetitivas. Honestamente, preferimos que nos perguntem como estavam as coisas, ocasionalmente, em vez da imposição “está/estava tudo bom” a meio e no final de cada prato. Até poderia ser verdadeira preocupação, se no final do jantar não nos reforçassem duas vezes que podemos deixar gratificação ao fazer o pagamento por multibanco. Um pouco exagerado, digo eu.
Sobremesas há muitas, mas dividimos uma só, porque se destacou das outras logo no momento em que recebemos a carta. Estamos a falar do Cheesecake com Queijo da Serra e Molho de Framboesa. Como cheesecake é muito bom, mas a promessa de queijo da Serra fica-se por aí, pela promessa…
E assim, no final de contas, há duas coisas importantes a reter de tudo aquilo que escrevemos até agora. Por um lado, a carta de pratos contemporâneos dá 20 a zero à carta de sushi, pela qualidade e pela originalidade. Não que o sushi seja mau, mas o restos dos pratos que provámos foram efectivamente muito melhores. E depois – se calhar até muito mais importante – o Villa Saboia é mais do que o seu dono (ou quem dá a cara por ele). Mesmo precisando de algumas afinações no serviço, é um restaurante giro, com alguma sofisticação, com uma carta variada o suficiente para agradar a muita gente. E com alguns pratos que nos fazem voltar de certeza!
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