“Oh la la”
.
A cozinha francesa é por definição a cozinha clássica. E por cá, independentemente do número de mousses, bavaroises, patés, apesar do número quase incontável de emigrantes por terras do Galo Desportivo, não importámos, nem consumimos francesismos em excesso.
Ainda assim são organizados eventos em torno do “Gout de France” e existem exemplos, poucos, do que se come em França, não a um nível “finedinning”, mas a um nível: de casa.
Por indicação, sugeriram-me em terras de peixe luxuoso ir a um francês no meio do nada. Nem vista de mar tem. E eu fui.
.
A ementa está escrita em quadro preto com caneta branca e vem tudo para a mesa com tempo e espaço para escolher. Não dá para escolher tudo, por isso houve que fazer opções. Uma delas, foi não comer foie. Nas suas existências “micuit”, ou fresco, consoante a elaboração.
O pão é pequeno, enfarinhado por fora (aquele que damos por nós minutos depois a esfregar os dedos), denso e com côdea fina e crocante, mas sobretudo quente. Vem apropriadamente em baldes, com alguma quantidade, porque se emparelha com Tapenade, Rilletes e manteiga da boa. Poderíamos ter adicionado garrafas de vinho e ficado só aqui. A tapenade, com o sabor doce da azeitona preta, a pungência do alho e o acre das alcaparras, o salgado da anchova. A rillete, ultra envolvida, sem vestigios quase da fibra animal, untuosa como se quer. A manteiga com sal.
Raviolis (bem, não tão francês quanto isso), recheados de vieiras, e cobertos com um molho de morilles, servidos à unidade (para ajustar ao número de convivas a partilhar) em taça de sopa...para aproveitar o molho todo com pão a seguir.
Soufllé de Queijo. Como é que é possível ter perdido isto? Uma receita perfeitamente adaptada aos tempos modernos de consumo de proteína, preparação hiper simples, com um único cuidado: falar baixo (e não agitar demasiado as coisas). Estava sólido o suficiente para dividir em quatro, sem morrer ao primeiro impulso, com sabor a recordar tempos passados, e poderia ter mais queijo, com mais sabor, mas decerto não iria agradar a toda a gente.
Tártaro. Mesmo. Corte manual da carne, corte ligeiramente mais rústicos dos vegetais, preparado para a mesa, acompanhado de tostas, e batata frita em banha de pato. Dispensa-se o pão. Pedem-se batatas dauphinoises, em dose extra para acompanhar.
Peçam batatas dauphinoises, só para as comer, sem ser com mais nada. São gulosas o suficiente para isso.
De sobremesa fondants de chocolate. Daquele manuais, que demoram tempo, que o exterior é ligeiramente acinzentado, porque levaram farinha e não uma quantidade enorme de gordura. No ponto hiper correcto e acompanhados de um gelado de baunilha, muito mas muito bom, o suficiente para ser comido sozinho.
.
O GPS ajuda sempre a encontrar. Estacionamento à porta existe, mas são quatro lugares disputados, para portas de alumínio que se abrem directamente da estrada nacional. Aliás ao almoço de dia de calor, estavam mesmo abertas.
Os ícones fotográficos encontram-se espalhados pelas paredes, desde a Torre Eiffel, aos actores a preto e branco, passando pelo Marais. Tudo reconhecível numa só visão. As mesas simples, os pratos desirmanados, os copos de tinto a postos, elegantes, e as garrafas que os enchem ao alto, por aqui e por ali onde cabem.
O serviço está alocado directamente ao Pierre Marie ele próprio. Uma simpatia menos expectável daquelas terras, muito abundante, com capacidade para gerir e para resolver. Não será o mais veloz do mundo, mas isso também não é requerido para este tipo de alimentação.
.
São poucos lugares. Mesmo assim pouco cheios. Não se compreende o porquê.
.
#zomato40 #ovocru #eatportuguese #alafrancaise #cascais
An error has occurred! Please try again in a few minutes